Você está conseguindo se desconectar nas férias?
Você está conseguindo se desconectar nas férias?
Eu, não.
Veja bem: não estou em situação de fracasso total, do tipo almoçando-com-a-família-em-silêncio-scrollando-o-instagram. Fui viajar e consegui passar longos períodos longe das redes sociais. Lendo "longo", aqui, como quaaaase um dia inteiro.
Também não estou em férias totais. Sou freelancer e achava que devia estar minimamente conectado agora no início do ano. Preciso do celular e das redes para divulgar meu trabalho e também para conseguir trabalho. Algumas propostas rolando, uns jobs (sou chique) pendentes, alguém dizendo "te escrevo no dia 3 sem falta".
Eu estava errado. A verdade é que eu poderia ficar totalmente offline. Nada de muito relevante aconteceu nesse período, ninguém ligou nem escreveu no dia 3 de janeiro oferecendo trabalho.
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Em compensação, a cada conferida no smartfone, a cena de sempre: minutos — às vezes, horas — desperdiçando atenção energia com nem sei ao certo o quê.
(Também é verdade que li coisas interessantes. Com certeza menos do que o investimento de energia no bom livro que comecei e não terminei).
Há uma pergunta subjacente à culpa de não sair da frente do celular: nós realmente precisamos sair da frente do celular?
Provavelmente, sim. Já há volumosa evidência de que o excesso de tempo nas redes sociais e internet é prejudicial. Pesquisas indicam impacto negativo no sono; estudos afirmam que se trata de um vício; há correlação com distúrbios psicológicos como ansiedade, depressão, baixa autoestima e transtorno de personalidade narcisista. Uma listinha nada agradável, que faz gente como Jason Lanier, filósofo que cunhou o termo realidade virtual, afirmar: "evito as redes sociais pela mesma razão que evito as drogas".
A turma hipertecnológica, aliás, percebeu o drama cedo. Em sua vida particular, experts em tecnologia afastam seus filhos de tablets e telefones celulares. Gente graúda que passou pelo Facebook, Youtube ou Google agora discute qual o limite para a vida online — é esse o debate contemporâneo no Vale do Silício, segundo reportagem do New York Times.
Daí às estratégias: o que fazer para diminuir nosso tempo na rede? O gradualismo está em ascensão. Apps nativos de celulares apostam no autocontrole ao mostrar o tempo que passamos em cada rede. Já testou? Se ainda não, aposto que vai se surpreender negativamente com sua performance, como aconteceu com o grande Matheus Pichonelli…
De minha parte, estabelecer limites não funcionou. Como já disse, cada olhadela vira um intervalo de Era Glacial. De modo que prefiro apostar no shutdown total: celular desligado, de preferência descarregado, guardado dentro do armário.
Nesse caso, para mim dá certo — tem dado nos fins de semana, ao menos. Agora, em 2019, minha meta de desconexão é finalmente fazer valer o que está escrito em meu recado no perfil do Whatsapp: "por aqui das 9h às 17h, de 2a a 6a". No resto do tempo, é celular no cofre, se eu tivesse um.
Ótimo ano para todos nós.
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